Assassinatos Mitológicos de Fúria de Titãs 2010 Parte 3

Continuando com a análise do filme Fúria de Titãs 2010 (Clash of the Titans 2010).

Perseu parte com um pequeno exército à procura das Bruxas Estigeanas que podem dizer como matar o Kraken.

Os companheiros de Perseu são guerreiros de Argos, caçadores e Io. Obviamente, na lenda a peregrinação de Perseu contra Medusa é sozinho.

Engraçado a coruja mecânica que Perseu encontra no meio do arsenal. Quem fez ela? Hefesto, deus do fogo e dos ferreiros, ou será que Dédalo, grande inventor, escultor e arquiteto, também morava em Argos?

Os nomes dessas personagens não nos é importante, pois eles são apenas criação deles. Como já dito, Perseu nunca teve nenhum companheiro em suas aventuras na Mitologia. Além do que, Draco, nome de um dos guerreiros, é um nome latino.

Acrísio e Hades

Acrísio, agora Cálibos, ainda vive escondido em Argos. Hades lhe dá poder para matar Perseu.

Quem é Cálibos, na Mitologia? Não sei, pois ele não existe.

Mas Hades diz que está fraco ainda. Me pergunto, porque é que Hades, um deus, está fraco, sem a totalidade de seus poderes. De onde tiraram isso?

Interessante que com apenas uma aula de esgrima com Draco, Perseu se torna um mestre espadachim, digno de Matrix.

Perseu ganha de uma divindade (entendemos que seja de Zeus) uma espada. E aparecem pégasos brancos e um negro.

Io diz que nenhum homem jamais montou um pégaso.

Na Mitologia, existe apenas um Pégaso, o filho de Medusa e Poseidon, que nasce no momento em que ela é morta. Então, se Pégaso nem nasceu nesse momento ainda, como é que já pode existir uma manada de pégasos?

O único presente que Perseu ganha dos deuses (mais pra frente veremos outros) é essa espada. Porém, o verdadeiro Perseu ganhou vários presentes de diferentes deuses: de Atena, que só faz rápidas aparições no filme, um escudo e uma espada, de Hades, o elmo da invisibilidade e de Hermes, as sandálias aladas.

Nenhum desses presentes aparecem no filme. Sem essas dádivas divinas, Perseu não teria conseguido fazer nada em sua jornada.

Nesse filme, em que homens e deuses são inimigos, a ajuda que os deuses deram ao Perseu das lendas gregas é mínimo. O papel deles de extrema relevância passa à coadjuvante.

Eis que surge Cálibos para matar Perseu. Ele mata alguns dos companheiros dele, morde Perseu, perde a mão pra Draco, e da mão decepada e do seu sangue negro nascem escorpiões gigantescos.

Além do escorpião que atacou Órion, o gigante, e que foi colocado no céu, não se fala mais de escorpiões na Mitologia.

Surgem os salvadores dos argivos. Os djinns. Feiticeiros do deserto.

Os djinns são seres da Mitologia Árabe. São espíritos. Não fazem parte da Mitologia Grega. Lembra do gênio do Alladin? Ele é um djinn.

Os de Fúria de Titãs transformaram-se em praticantes de magia negra, deixando de ser homens, parecendo serem feitos de madeira.

Eles domam os escorpiões gigantes, curam Perseu do envenenamento, e vão com eles em sua jornada heroica.

O sacerdote louco que aparece mais parece um daqueles sábios hindus do que um grego.

Draco e Perseu

Os soldados argivos sepultam os companheiros mortos. Colocam nos olhos dos mortos moedas, que são um suborno pro barqueiro.

Que barqueiro é esse? Trata-se de Caronte, o barqueiro dos mortos, que à beira do rio infernal Estige, pelo qual os deuses juram, transporta os espíritos dos mortos para o outro lado. Mas essa viagem não é de graça. Só passa quem trouxer uma moeda (tradicionalmente, um óbolo) para Caronte. Quem não trouxer, fico do lado de cá por cem anos, ou até que a boa vontade de Caronte os permita passar (ou seja, nunca).

Entretanto, como é que o defunto levava essa moeda para pagar a divindade barqueira? Os antigos helenos colocavam a moeda dentro da boca do morto. Já no filme as moedas (não sei porque são duas) são colocadas na face.

Faz mais sentido dentro da boca (debaixo da língua), pois assim o espírito do morto leva a moeda junto. Colocando-a na face, não tem como o falecido levá-la.

Interessante ver que Perseu acha que usar a espada presenteada o tornará um “deles”, referindo-se aos deuses. E ver ele dizer que quer fazer isso como um homem, é um sacrilégio.

Já foi dito antes: sem os presentes e a ajuda divina, Perseu não seria nada.

E, mais uma vez, como já explicado, não é nenhum pouco fácil tornar-se um “deles”. Poucos semideuses se tornaram divindades.

As Bruxas Estigeanas e Perseu.

As Bruxas Estigeanas vivem nas Montanhas Norn. Só que desconheço esse lugar na Mitologia Grega. E Norn me lembra das Nornas da Mitologia Nórdica, três deusas que controlavam o destino, igual as Moiras/Parcas de Grécia/Roma.

Um dos companheiros de Perseu diz que estão no Jardim de Estige, local onde o Kraken derrotou os Titãs.

Maaaaaaas... na Mitologia Grega, Estige é um dos rios infernais. O nome dele vem de Estige, ocêanida (filha dos titãs Oceano e Tétis), que, junto com seus filhos, lutou ao lado de Zeus contra os seus tios, os Titãs. Por terem sido os primeiros a se por ao lado de Zeus, foram recompensados. Estige deu nome ao rio pelo qual os deuses juram, e seus filhos, Zelo (Ciúme), Nike (Vitória), Bia (Força) e Cratos (Poder), tornaram-se do séquito de Zeus.

Quando eles chegam à morada das horríveis Bruxas, descobrem que elas dividem um único olho.

Isso nos faz identificá-las com as Gréias, irmãs das Górgonas. Na Mitologia, elas não são bruxas. Apesar de serem mesmo três e partilhar um único olho, elas também partilham um único dente.

Agora, não sei porque elas querem devorar Perseu. Ninguém fala delas serem antropófagas nas lendas. Isso me parece uma influência de Percy Jackson e os Olimpianos, onde cada monstro pode sentir o cheiro dos semideuses, e adorar a carne deles.

A estratégia de Perseu de roubar o olho para conseguir a resposta delas é a mesma da verdadeira lenda.

Só que na lenda, ele quer saber como chegar à Medusa. Aqui ele quer saber como matar o Kraken, e para isso ele descobre que precisa de Medusa.

Veja a mudança do propósito de Perseu. Na lenda, ele vai matar a Medusa, e depois é que mata o monstro marinho. No filme, ele quer matar o Kraken, e pra isso precisa matar a Medusa.

Ah mais uma coisa... elas dizem Titã contra Titã, referindo-se ao Kraken e a Medusa. Na Mitologia Grega, a Medusa não é considerada um Titã.

Aliás, nenhum outro ser da Mitologia Grega é considerado um Titã além dos Doze Titãs, filhos de Urano e Gaia, e alguns de seus filhos.

Zeus é mais Titã do que o Kraken e a Medusa poderiam ser, pois ele é filho de dois Titãs (Cronos e Réia), enquanto o Kraken seria filho de Hades, e a Medusa (a da lenda) é filha de Fórcis e Ceto.

Zeus mais uma vez oferece a divindade ao filho. Após mais uma recusa, o deus dos deuses dá mais um presente ao semideus. Ao descobrir que Medusa vive no Mundo Inferior, os caçadores abandonam a viagem, mas junto com os demais, Perseu parte em direção ao domínio de Hades.

O presente de Zeus, uma moeda de ouro, é o suborno para que Caronte os leve ao outro lado, ao Mundo Inferior. Sempre imaginei, e sempre foi retratado, Caronte conduzindo uma canoa. Mas, fizeram-no condutor de um barco semi-destruído... interessante. E parte do barco.

Io conta a história de Medusa, que não tem nada a ver com a lenda. Nessa nova história, Medusa recusou a investida de Poseidon, que a violentou no templo de Atena, para onde Medusa fugira procurando abrigo. Atena, em vez de ajudá-la, a transformou em um monstro.

Claro que nesta narrativa os personagens continuam os mesmos, mas as motivações são diferentes. Na lenda, Medusa aceitou se encontrar com Poseidon no templo de Atena, que lhe tirou a beleza e deu o poder de transformar quem lhe olha em pedra.

A Medusa arqueira.

Sabemos que Medusa tinha duas irmãs. Eram três Górgonas. No filme, apenas uma existe, a Medusa.

Não sei porque a górgona virou uma arqueira. Nunca a vi retratada assim.

A Mitologia fala que elas são monstruosas: tinham asas, dentes vorazes, garras terríveis, e forma antropomórfica. Claro que é fácil imaginar a Medusa como uma cobra gigante, afinal ela tem cabelos de cobra.

Engraçado o esforço da cobra em mudar o djinn em pedra.

Cobra decepada... churrasco de cobra.

Cálibos mata Io, e é morto por Perseu, usando a espada divina. Não entendi porque na hora da morte, Cálibos se torna Acrísio de novo.

Também não entendi porque Io se esvai. Ela virou purpurina?

O pégaso negro surge para levar Perseu a Argos. É mais um dos presentes de Zeus, que não quer que o filho morra.

Mas como, se o Pégaso (o original) nem nasceu da Medusa decepada?

Ele poderia ter vários filhos, inclusive um de cor preta, mas como poderia se nem nasceu? Eu já disse antes, que Perseu usava as sandálias aladas de Hermes para voar.

E chega o eclipse solar.

Eu não sei porque toda essa história se desenrola em torno desse eclipse.

Hades disse que soltaria o Kraken no eclipse solar. Mas o que é que tem a ver uma coisa com a outra?

Isso parece mais aquelas coisas de alinhamento planetário, quando uma grande energia permite que alguma coisa aconteça. Parece ser esse o caso.

Porque os deuses todo-poderosos precisariam que isso acontecesse para poder libertar o tal monstro?

Como dizem... se eu descobrir, eu te conto.

Os deuses no Olimpo.

Então, com o eclipse, Hades consegue que Zeus dê a ordem: “Liberte o Kraken.”

A prisão do monstro se abre: ele sai do fundo do oceano.

Na Mitologia Grega, após o fim da Titanomaquia, os Titãs são aprisionadas no Tártaro, no fim do Hades. Claro que na concepção grega, o Hades fica abaixo do domínio de Poseidon.

Andrômeda é levada pelos adoradores loucos de Hades para ser oferecida ao monstro, que começa a destruir a cidade.

Milhares de estatuetas de homens se desintegram no Olimpo. Hades confessa a traição ao irmão que o traiu.

Acho estranho que o deus que tanto ama a humanidade, que é capaz de lhes perdoar, tenha sido capaz de enganar o próprio irmão.

Hades diz que só ganha o ódio dos mortais, e que sobrevive do medo humano. Mais uma vez aparece o erro atual de querer fazer de Hades o vilão.

Hades é mais odiado hoje do que foi pelos antigos helenos.

Eu não sei que coisas são aquelas que Hades comanda e lança contra Perseu. Dizem que são harpias. Parecem demônios do catolicismo, só que sem chifres.

Os caçadores, únicos dos companheiros que não morreram, aparecem para ajudar montados em escorpiões.

Após recuperar o saco com a cabeça de Medusa, que os demônios roubaram, Perseu mostra-a ao Kraken, que se transforma em pedra.

O sacerdote tenta acertar Perseu com uma lança, mas é impedido por Cefeu. Ele mata Cefeu, mas é morto pela mão de pedra do Kraken que cai em cima deles.

Hades vem acertar as contas com Perseu. Mas Zeus lança um raio na espada divina, e Perseu a reconduz ao deus dos mortos, que é atirado pro fundo do oceano.

Andrômeda, que caiu no mar, é resgatada por Perseu.

Aqui acontece mais um grande assassinato mitológico. Perseu não casa com Andrômeda! Ela até quer, mas ele não aceita.

A lenda diz que Perseu se ofereceu pra matar o monstro marinho que queria devorá-la, em troca da sua mão em casamento.

E o pior, além de não casar com Andrômeda, Perseu se junta com Io, a morta, que Zeus traz de volta à vida. Isso depois de Perseu recusar mais uma vez a divindade.

E aqui terminamos a análise de Fúria de Titãs 2010. Pode ser que eu tenha esquecido algumas coisas (afinal, também cometo erros), mas fiz o que pude.

Eu gosto muito de filmes de aventura, especialmente quando tem muitos efeitos especiais. E apesar de Fúria 2010 ter deixado a desejar em muitas áreas (que eu não comentarei, deixando-as para os críticos de cinema), e dos inúmeros assassinatos e erros mitológicos, se tiver um tempinho, assista... ou espere uns quatro anos até passar na Tela Quente (que é o que eu farei para revê-lo).

Infelizmente eu não posso falar dos erros mitológicos de Clash of the Titans 1981, pois nunca o vi.

Mas, estaremos de volta...

Em 2012 virá o Fúria de Titãs 2 (of Titans), e pode esperar que os Assassinatos Mitológicos de Fúria de Titãs 2 virá. E com certeza serão ainda maiores.

E aí, o que você achou?

Sua Alteza, Duque César.

@cesar_bezerra

Veja também: Erros Mitológicos de Fúria de Titãs Parte 1
Erros Mitológicos de Fúria de Titãs Parte 2